Rihanna fala sobre racismo para T Magazine

Rihanna continua sendo "dona" de 2015 e adicionando ao seu currículo mais uma capa de revista deste ano de várias, com seu novo ensaio para a T: The New York Times Style Magazine.

Diferente das demais entrevistas anteriores, dessa vez as perguntas foram feitas por outra artista, a diretora e escritora Miranda July.

Leia a entrevista completa:

Os lábios dela estavam em um tom de brilhante de vermelho, as unhas num tom de lavanda pálida, seu rímel nas cores preta e branca de uma forma que eu não consegui entender. Um cordão no peito escrito "FENTY", seu sobrenome [...]

Rihanna me abraçou, disse "Oi" e nós nos sentamos em frente à duas taças de vinho branco. "Seus olhos são lindos", ela me disse, arrastando sua cadeira mais perto. "Estou olhando pra você e sinto que meus olhos vão ser ofuscados, porque tudo que consigo ver são seus olhos".
"Bem, isso é mútuo, pode apostar." eu disse. Foi provavelmente o elogio mais fraco que ela recebeu. Eu olhei para baixo, olhando com cuidado as perguntas que escrevi, tentando achar a melhor pergunta para começar.

T Magazine: Você pesquisa na internet? Se sim, o que você procura?

Rihanna: Hum... coisas aleatórias, tipo, às vezes eu sento e jogo no Google coisas sobre parto.

T Magazine: Poderia ser mais aleatório do que partos.

Rihanna: Partos, falando de uma maneira geral. Eu estava procurando sobre o tamanho do corpo, e o quanto elas expandem, e o que acontece depois...

T Magazine "Vai ficar tudo bem." Eu disse por experiência. Queria ter acrescentado também "Você tem um corpo especial. Nada que você jogar no Google vai servir pra você". Eu a perguntei que tipo de aplicativos ela tinha no telefone, ela mencionou algo chamado Squaready.

Rihanna: Esse app ajuda a colocar uma imagem com diferentes dimensões no quadrado do Instagram.

T Magazine: Então você mesma atualiza seu Instagram?

Rihanna: Sim, sim. Essa é a única maneira das coisas funcionarem. Meus fãs percebem as coisas de longe. Eu não conseguiria enganá-los.

T Magazine: No Instagram, Rihanna é vista bastante com biquínis, e ela está sempre linda. Sugeri que um corpo como o dela nunca está nu ou vulnerável. Ela tentou descrever o que faz uma foto ficar ótima.

Rihanna: Não há regra que você tem que estar vestida ou não. Eu quero ver uma mulher nua que nem tem consciência da sua nudez.

T Magazine: Ok eu disse. Apenas o puro prazer do corpo.

Rihanna: Sim. Os homens vão fazer o que eles fazem. E eu vou fazer o que eu faço.

De repente Rihanna levantou uma mão para cima, fazendo um sinal de paz. Eu virei minha cabeça e vi um senhor branco tentando tirar uma foto dela, tentando fazer uma selfie. Ela estava sorrindo mas eu me senti incomoda por ela, e levantei o dedo do meio. "Me desculpe." o homem disse. A mesa dele rodeada de pessoas comendo camarão e bebidas parecia mortificada. "Eu nunca fiz algo assim".
Rihanna disse "Tudo bem. Você teve sorte que eu não estava comendo, senão essa seria uma foto horrível".

Feito isso, nós nos endireitamos e eu alisei minha blusa. "Posso perguntar o que é isso?" ela disse, apontando pra minha roupa.

T Magazine: Yves Saint Laurent, vintage.

Rihanna: Seu gosto- Eu quero dizer,eu nem consigo falar com você.

T Magazine: "Obrigada. Eu me vesti assim pra você" sabendo da profunda apreciação de Rihanna pela moda. Todos nós detonamos o Met Ball e ela com aquela enorme vestido de cauda amarela. Nós estávamos falando a respeito da primeira negra embaixadora da Dior. Se Rihanna se sente bem, pelo menos olhando de fora.

T Magazine: Você consegue descrever como é isso na sua mente?

Rihanna: Você é a pessoa do "próximo momento" nunca a pessoa "no momento"
"Sim ”, eu admiti, sabendo que este é o tipo errado de pessoa para ser.

Rihanna: Eu sou da mesma maneira, só agora as coisas estão se encaixando pra mim,como eu me sinto emocionalmente. Eu estou costumada a me sentir insegura no momento de uma realização - Eu sentia que o chão iria cair diante dos meus pés porque isso poderia ser o fim. E até agora, enquanto todo mundo está celebrando, eu estou pensando na próxima coisa, eu não quero ficar perdida nesse grande instante da fama.

T Magazine: E é assim que você vai de uma criança com uma boa voz para vender 54 milhões de álbuns em apenas 10 anos. Não acredite nas fotos - a cada foto tirada numa festa com piscina, uma não é tirada enquanto ela simplesmente está trabalhando. Quase todas as noites, enquanto você está dormindo, Rihanna está no estúdio. Ela foi para lá depois do nosso encontro e a Jennifer disse que ela ficaria lá até o dia amanhecer. Naquele momento o engenheiro de som estava esperando por ela, da mesma forma que eu estava esperando mais cedo. Rihanna não tem tempo para atividades extracurriculares por enquanto, e isso inclui encontros.

Rihanna: Caras precisam de atenção. Eles precisam desse "alimento", aquela pequena coisa no ego que eles precisam de vez em quando. Eu darei atenção para a minha família, eu darei para o meu trabalho, mas eu não darei para um homem agora.

T Magazine: Eu disse que levei bastante tempo para encontrar um cara que não se sentisse ameaçado pelo meu poder, e Rihanna simplesmente disse: "Eu ainda estou nessa fase".

T Magazine: Olhando pra ela, me lembrei que milhares de pessoas jogam no Google "Olhos de Rihanna" todo ano. E lá estavam eles, um par de vertiginosos olhos verdes-avelã. Tomei outro gole de vinho e perguntei: "O que te excita?

Rihanna: Fico excitada com caras que têm cultura. Que vão me manter intrigada. Eles não precisam ser estudados, mas têm que saber falar outras línguas, ou saber sobre outras partes do mundo, ou a história de artistas ou musicistas. Gosto que me ensinem."

Gosto de sentar ao lado da mesa, ela disse, gesticulando para eu mover minha cadeira para perto da dela, para fugir do sol, e assim eu fiz.

T Magazine: Agora que ficamos lado a lado, senti que podia esclarecer algo. "Ei, você não tá pensando em engravidar, né?" A internet vai explodir quando eu disser que você estava pesquisando sobre partos. Ela sorriu e me garantiu que não vai ter uma criança nem tão cedo, o medo dela era de modo total. Nos perguntamos se tinha um nome para esse medo, e Rihanna pesquisou pra gente no iPhone dela.

Rihanna: Fobia de vaginas grandes ... 'profundas'... Isso é horrível! Não acredito que estou digitando isso.

T Magazine: Espera. Profundo não é um problema. É largo.

Rihanna: Profundo é um problema, oi?!

T Magazine: Porque eu sinto que... sempre tenho uma vagina pequena. Rihanna riu.

Rihanna: Confie em mim, se eles não conseguirem sentir até o final, é tipo Cannonball!

T Magazine: Cannonball no sentido de navegar pelo espaço - em algo que nunca acaba, como o cosmos. Homens gostam de saber que há um fim na mulher que eles estão, que ela é finita. É uma linha impossível de andar. Você quer ser global, mas ter os pés no chão. No momento, mas também um passo à frente dele.

T Magazine: Eu perguntei a ela quando ela aprendeu sobre sexo.

Rihanna: Bem, há sempre esse instinto humano sobre isso, mesmo numa idade muito, muito jovem. Mas com tipo, 11 anos, garotas estavam falando sobre o que elas já tinham e não tinham feito. Eu nem tinha beijado um garoto ainda, então aquilo sempre me fez me sentir insegura. Como se eu nunca fosse me sentir bem ou preparada pra saber o que fazer, eu nem tinha peitos.

T Magazine: Apenas 5 anos depois, depois de criar peitos, Rihanna deixou Barbados para ir a Nova York gravar uma demo. Ela se mexeu na cadeira um pouco quando falei desse assunto.

Rihanna: Isso é algo que acho que eu nunca faria. Deixar minha única filha ir para um país estranho para viver com pessoas que ela acabou de conhecer. Tinha que ser Deus que paralisou as emoções de Monica Fenty, assim ela pôde dizer "Sim, vá". Até hoje eu não sei como isso aconteceu, mas graças a Deus, aconteceu.

T Magazine: O que deixa sua mãe impressionada?

Rihanna: Ela está sempre impressionada como ela me vê sendo um pouco audaciosa, ou inteligente, quando ela vê eu me defendendo. Faz ela se sentir segura, ela não tem que se preocupar comigo.

T Magazine: Eu queria perguntar sobre ser uma mulher jovem e negra com poder na América, mas parecia errado de alguma forma falar sobre isso; Então eu direcionei minha perguntar para uma Rihanna mais jovem, e perguntei se ela de repente se sentiu consciente sobre a raça de uma maneira diferente quando mudou para Nova York. Ela hesitou. E eu nervosamente comecei a me desculpar, e ela interrompeu.

Rihanna: Sabe, quando eu comecei a experimentar a diferença, ou mesmo em ter minha raça em destaque, geralmente era quando eu fazia reunião de negócios.

T Magazine: Negócios. Significa que todo mundo é legal com uma garota negra jovem cantando, dançando, festejando e sendo sexy. Mas quando se trata da hora de mediar um acordo e fechar um negócio, de repente ela é lembrada de sua negritude.

Rihanna: E você sabe, isso nunca acaba, de qualquer forma. Ainda existe, e é isso que faz você querer mostrar para as pessoas que elas estão equivocadas. Isso quase me excita. Eu sei o que as pessoas estão esperando e eu mal consigo me conter para mostrar a eles que estou aqui para exceder as expectativas.

T Magazine: Ela soou como uma jovem profissional negra tentando entrar no mundo corporativo.

Rihanna: "Mas eu tenho que ter em mente" continuou ela olhando para o gravador, "que as pessoas estão julgando você porque você está definido de uma certa forma. Eles já estão programados para pensar que um cara negro vestindo um casaco significa segurar a bolsa um pouco mais forte."

A entrevista acabou e a noite caiu enquanto digiramos por Los Angeles. Demorou horas para conseguir falar com a Rihanna, mas eu já estava em casa metade daquele tempo, cedo demais. Antes de entrar em casa, eu levantei minha blusa, o perfume dela ainda estava lá.

A repórter ainda declarou que se Rihanna tem algum "modelo", esse modelo seria o de mudar sempre o seu "modelo". Rihanna não criou uma persona como fez Beyoncé, Lady Gaga, Madonna e tantos outros artistas do nível dela. Ela não precisa fabricar dimensionalidades porque ela na verdade, é cheia de alma. E isso transparece em cada pequena coisa que ela faz.

As almas são coisas engraçadas. Elas continuam iguais mesmo quando há mudanças externas, ou quando o coração comete erros. As almas não se importam com o bem ou o mal, o certo ou o errado, elas apenas são verdadeiras.